SOBRE HONRA E MORAL
por Marco Duailibe
Já ouvi muitas histórias de pessoas que tiveram sua honestidade à prova, sua vida exposta em carne viva.
Nunca pensei que um dia viveria uma situação tão dolorosa quanto essa.
Em poucos dias meu nome foi achincalhado, motivo de dezenas de reportagens de pessoas que em nenhum momento levaram em conta a minha história, escrita com integridade e credibilidade em 41 anos de muito trabalho, embora a maioria conheça a minha essência como profissional e como cidadão.
Em toda a minha vida, nunca tive o meu nome envolvido em nenhum imbróglio, o que me fez mergulhar não em fundo de poço, mas numa profunda tristeza por ser obrigado a viver tudo isso sabendo que não fiz nada de errado.
Recebi muito carinho de minha família, dos amigos e de gente que mesmo não sendo próxima, conhece a minha luta para viver dignamente.
Hoje, após um grande silêncio, resolvi me manifestar em relação a toda essa história.
Não só para esclarecer alguns fatos, mas para agradecer a todos os que jamais duvidaram da minha idoneidade e da idoneidade dos meus auxiliares diretos, nos quais eu confio e sempre confiei para gerir a cultura da minha cidade.
Em três anos de serviço público como secretário, sem nunca ter gozado férias, de ter trabalhado dias e noites, domingos e feriados, no sol e na chuva, sempre feliz e com uma equipe que transformamos em uma grande família, eu tenho o maior orgulho de ter feito o que pude sem nunca ter ganho nenhum real a mais que o meu salário, o que fez com todo esse tempo todo eu dormisse com a minha consciência tranquila e como a minha conduta ilibada – assim como a conduta dos meus ex-auxíliares.
Vamos resumir a história porque não temos mais tempo para sofrer.
Antes do Carnaval, realizamos um chamamento público. A única instituição que se inscreveu para participar foi a Juju e Cacaia, Tu és uma bênção. Uma instituição que sempre cumpriu o seu papel e que tem em seu CNAE a possibilidade de realização de eventos culturais. Talvez por seu nome ser em homenagem aos seus familiares, tenha sido motivo de chacota e, por manter uma escola, tenha tido sua imagem deturpada, o que levantou dúvidas sobre a sua integridade – ah, os juízes de internet!
Junte-se a isso o parecer do nosso jurídico naquele momento e do entendimento da nossa chefia de gabinete, ambos representados por profissionais sérios, competentes, que foram extremamente prejudicados e tiveram sua honra e carreira expostas.
Resultado: após toda essa história se tornar um escândalo na imprensa, todos fomos exonerados, sem que ao menos tivéssemos chance de defesa.
Dias depois, através de um trabalho brilhante do Ministério Público, ficou comprovada a licitude de todo o processo, a capacidade técnica da entidade e a prefeitura de São Luís foi recomendada a acatar a decisão que devolveu à Juju e Cacaia a execução do carnaval da nossa cidade promovido pelo município.
Saibam, não há nenhuma felicidade em contar essa história.
Há dores que só cicatrizam por fora.
Só quem sente na pele sabe o que isso causa por dentro.
Foram noites sem dormir, sem comer, chorando por uma culpa que nunca tivemos.
Mas quem nos conhece – Marco Duailibe, Aulinda Lima e Felipe Martins- sabe de nossa fé.
Durante todo esse tempo, entreguei tudo nas mãos de Deus, porque um Pai conhece bem o seu filho. E de mãos estendidas para Jesus e Nossa Senhora, clamei por misericórdia, clamei por justiça.
Em um dado momento, ouvi no sermão de uma missa que o mal acontece até para quem só faz o bem.
Eu escolhi confiar.
Eu escolhi deixar Deus enxugar o meu pranto e me dar a vitória.
Mas o que é vencer? Encontrar culpados? Apontar quem errou?
Nada disso vai ser pior do que feriu a minha alma.
Nada disso vai ser pior do que deixar de acreditar e admirar pessoas que a gente nutria uma profunda amizade e lealdade.
Nada vai conseguir curar uma profunda decepção que arranca pessoas do nosso coração.
Já me perguntaram se teria ou queria o meu emprego de volta.
Nesse momento, o que queriamos de volta já temos: a nossa honra, a nossa dignidade.
O resto vem pela consciência e pelo caráter de cada um.
Agora volto a ser um publicitário com 41 anos de profissão, em busca de uma nova oportunidade de trabalho, pois herdei dos meus pais, além dos princípios que norteiam a minha vida, a vontade e o gosto pelo trabalho. Aulinda e Felipe retornam ao seu conceituado escritório de advocacia, que não há de sofrer um arranhão por causa da maldade alheia.
E jamais vou deixar de fazer a minha arte, pois como diria Cecília Meirelles: não tenho inveja às cigarras, também vou morrer de cantar. E, cantando, superando qualquer adversidade.