Participaram Ester Marques, comunicóloga e pesquisadora em cultura popular; Rosa Reis, cantora, produtora e movimentadora da cultura brasileira; e Padre Bryan, teólogo e pesquisador na área de religiosidade cultural.
O programa ‘Contraplano’ desta terça-feira (13), na TV Assembleia, exibiu bate-papo sobre a identidade cultural no São João do Maranhão. Participaram a professora Ester Marques, comunicóloga e pesquisadora em cultura popular; a cantora Rosa Reis, produtora e movimentadora da cultura brasileira; e o Padre Bryan, teólogo e pesquisador na área de religiosidade cultural.
Ester Marques observou que o conceito de identidade cultural, tal como outros da área social, é extremamente flexível. Os elementos se movimentam, se fundem, se desconectam e tudo depende muito da circunstância, do fenômeno e da área que se está tratando.
“Em relação ao bumba meu boi, o conceito tem muito a ver, na minha opinião, com o aspecto sagrado, a natureza sagrada do boi, muito mais do que com a natureza profana. Essa natureza sagrada é que dá ao bumba meu boi a sua identidade”, observou a comunicóloga.
A cantora Rosa Reis destacou as peculiaridades do São João, citando elementos como a música, a dança e as indumentárias, assim como as promessas aos santos, tanto no boi quanto no tambor de crioula e na festa do Divino.
Ela também assinalou a miscigenação presente nas manifestações, apontando o sotaque de zabumba como sendo mais ligado ao povo negro, e o sotaque de orquestra mais representativo dos indígenas. “Tudo tem a ver com a formação da nossa identidade, do nosso povo”, disse.
Origens e herança
Padre Bryan destacou as origens históricas do São João e do culto ao boi e falou sobre a apropriação pela religião católica de manifestações populares, através dos tempos, moldando-as a partir de ritos religiosos. “Do ponto de vista histórico, esse movimento não acontece só com o São João, mas também com outras festas. O Natal é uma delas”, observou.
Como herança desse processo, Padre Bryan assinalou pontos marcantes da tradição popular e enfatizou a presença forte do sincretismo, caso do ritual de batizado realizado pelos grupos de bumba meu boi, que só vestem as novas indumentárias a partir da data da bênção, que também marca o início da temporada oficial de apresentações. “Que a gente não perca essa ligação”, afirmou.
Sobre a chamada descaracterização dos grupos, Ester Marques afirmou não gostar do termo por partir do pressuposto que a cultura é algo estático. Ela usou o exemplo do Cacuriá, que segue o mesmo, apesar das mudanças por que passou nesses 37 anos de história. “A dinâmica da cultura faz isso, mas quando ela tem consciência do seu núcleo, que é um fundo arcaico de memória, ela se mantém”, atestou.
Rosa Reis, ao concordar com o raciocínio sobre as evoluções, complementou: “Foi a forma que conseguiram, uma adaptação, para continuar”.
O programa ‘Contraplano’ é ancorado pelo jornalista Fábio Cabral e vai ao ar todas as terças-feiras, às 15h, pela TV Assembleia (canal aberto digital 9.2; Maxx TV, canal 17; e Sky, canal 309).